sábado, 14 de maio de 2011

Cerveja com moderação não causa barriga

Douglas Caputo

Frequentadores de bares e cervejas culpam bebida pelo aumento na barriga. Mas especialistas condenam tira gosto como grande vilão do sobrepeso em cervejeiros.

          O consumo de bebidas alcoólicas pode criar a famosa “barriguinha de chope”? A funcionária pública Fernanda Freitas, 26 anos, acredita que sim. Ela aproveita as folgas nos finais de semana para frequentar bares e tomar cervejas. A cada rodada, bebe pelo menos quatro garrafas. Com 78,5 quilos distribuídos em 1,64 metro, condena a bebida que consome desde os 17 anos pelo acúmulo de gordura abdominal.

          “Percebi que tive um aumento de barriga por causa da cerveja. Todo médico que vou fala que minha barriga é desproporcional ao corpo por causa da cerveja. Ela é a culpada pelo meu barrigão, pela pança que tenho”, brinca.
          Além da bebida, nas mesas dos bares que Fernanda se encontra com a “galera” não falta um cardápio de acompanhamentos variados. Mas o tira gosto que ela prefere “são as porções de carne gorda”.
          Na segunda-feira após a Páscoa, o comerciante Gerson Mauro Campos Lara, 52 anos, teve um café da manhã que passou longe dos ovos de chocolate que sobraram do dia anterior. Num bar na região central da São Tiago, saboreava uma latinha de cerveja enquanto defendia a bebida como importante fonte de alimento.
Cervejeiros culpam bebida pela barriga
          “Não tomo água de maneira alguma. Quando dá cede, bebo uma Coca Zero ou uma cerveja, mas prefiro a cerveja. Minha alimentação diária não passa de 500 gramas”, conta. Com 1,70 metro e 65 quilos, no prato de Lara não faltam arroz, feijão e salada. “Carne como pouco, apenas como petisco da cerveja mesmo”, afirma.
          A primeira vez que Lara bebeu foi aos 12 anos. Hoje não passa um dia sem cerveja. O consumo é tão grande que já perdeu as contas do número de latas por semana. Apesar do problema de má circulação que o fez amputar parte do pé esquerdo, desconsidera que o álcool seja o culpado. Só vê benefícios na cerveja. “Ela não deixa tonto e nem dá ressaca. A cerveja não traz nenhum mal”, garante.
          Mas não é assim que pensa o clínico geral Hospital São Vicente de Paulo, Carlos Herbert de Almeida, o Carlito. Diante da dieta desregrada do comerciante, o médico aproveita para um puxão de orelha. “As bebidas alcoólicas não substituem uma água, nenhum tipo de líquido”. Para Carlito, esse tipo de vida já caracteriza o alcoolismo com consequências diretas na saúde da pessoa. “Pode trazer obesidade, hipertensão arterial, diabetes e pancreatite”, completa.
         Ainda de acordo com o médico, o consumo desmedido de cerveja tem relação direta com o aumento da barriga. “O metabolismo da cerveja gera obesidade, principalmente abdominal. Além disso, ela é sempre acompanhada de tira gostos, o que aumenta o potencial de obesidade entre bebedores crônicos”, afirma.
           Segundo o clínico, a gordura que se acumula no abdômen não deve passar de 94 cm para homens e 80 cm para mulheres. Além dessas medidas, a pessoa já está propensa a doenças cardiovasculares graves como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
          Apesar de concordar com o médico sobre a bomba calórica que são os tira gostos e os riscos da obesidade para a saúde, Ana Paula Silva, especialista em nutrição clínica, explica que não existe nenhuma evidência que justifique culpar a cerveja pelo aumento dos famosos pneuzinhos.
          “A cerveja não contém gordura e o seu valor calórico chega a ser inferior ao de um copo de leite. Consumida moderadamente, a cerveja não é fator de obesidade e nem de aumento na circunferência abdominal. Não existe uma relação do tipo de bebida com o aumento da gordura corporal”, explica.
          Para Ana Paula, o ganho de peso é ocasionado “pelo estilo de vida de cada um, como inatividade física e dieta inadequada, que contribuem para o aparecimento da tão conhecida barriga de cerveja”.

Por trás do mito

          De onde vem a crença popular de que a cerveja é a grande vilã pelo aumento da gordura que se acumula na barriga?
          Ana Paula explica que o mito é gerado pelo fato da composição fermentada da cerveja produzir gases que aumentam momentaneamente o tamanho da região abdominal, que depois de um tempo volta ao normal. Para a nutricionista, a única conclusão “é que o consumo de calorias somado à falta de atividade física é o que gera o sobrepeso, a obesidade e não a cerveja em si”, garante.
          No site da empresa Gastromed é possível calcular o índice de massa corporal (IMC) de uma pessoa. Ele verificado a partir da divisão do peso pela altura ao quadrado. Com um IMC menor que 20, a pessoa é considerada abaixo do peso normal. Entre 20 e 25, normal. Entre 25 e 30, com excesso de peso. Índice de 30 a 35, obesidade leve. Entre 35 e 40, obesidade moderada. E pessoas com IMC acima de 40 já se enquadram na obesidade mórbida.
          Mas se a cerveja não é vilã, ela está liberada para todos em qualquer quantidade? A nutricionista explica que o álcool tem o mesmo efeito em homens e mulheres. Mas pondera que ele não deve ser ingerido em exagero e por pessoas que tenham alguma doença ou que estejam fazendo uso de medicamentos controlados.
          “O seu consumo deve ser preferencialmente aos fins de semana e no máximo duas latinhas ou duas doses de destilados. O álcool é metabolizado pelo fígado e vai para corrente sanguínea com vários prejuízos como diurese, que promove a perda de vitaminas importantes (C e complexo B) e minerais como cálcio, zinco, magnésio e proteínas. Isso pode causar doenças como osteoporose, azia, hipoglicemia, diabetes, fadiga e alcoolismo”, diagnostica.
          O conselho que vem de Carlito é que “beber não é salutar”. Sugere para aqueles que não conseguem ficar longe das mesas de bares um pé no freio e uma mudança na hora do pedido para o garçom. “Uma saída seria consumir vinho. Um cálice por dia é até terapêutico. Mas para os que não conseguem ficar sem a cervejinha, o ideal é que não passe de dois copos por dia. Que não podem ser acumulados caso a pessoa não beba durante a semana. É sem crédito”, acentua.
          Ana Paula concorda. “Ter vida social, ir a bares e tomar algumas cervejinhas em um dia de semana não causa estragos ao corpo de ninguém. Uma cerveja não faz mal, mas muitas, e com acompanhamento, sim”.
Mudança de hábito

          Cláudio José Reis de Castro, professor de Educação Física, argumenta que o organismo tende a guardar gordura para eventuais necessidades. “O instinto do corpo humano sempre prevê falta de alimento. A gordura que se acumula funciona como uma reserva de energia”, explica.
          Castro comenta ainda que “não bastam os exercícios abdominais para queimar a barriga, porque seu objetivo principal é fortalecer a musculatura da região”. O professor ensina que a melhor forma de se conseguir a chamada barriga tanquinho “é um trabalho generalizado, que inclui alimentação balanceada para perder a porcentagem de gordura geral do corpo e atividade física”.
          Mas Castro chama a atenção para os perigos de se realizar exercícios físicos sem acompanhamento profissional. “Para qualquer iniciante, é preciso que seja feita uma avaliação médica antes de se começar qualquer atividade”, orienta. Ele acrescenta que os perigos dos exercícios desacompanhados vão desde dores, lesões e distensões musculares até paradas cardiorrespiratórias.
Caloria e índice glicêmico
          Para que a digestão seja realizada, o organismo precisa aumentar a temperatura do corpo. Ana Paula explica que “a caloria (cal) é uma unidade de medida que define a quantidade de energia para elevar em 1ºC a temperatura de um grama”. Mas outro uso do termo, segundo a nutricionista, serve para calcular o valor energético de um alimento. Um exemplo disso são as 63 cal presentes em 200 ml, aproximadamente um copo de requeijão, de leite desnatado.
          Mas para quem está de regime o ideal, no entanto, é observar o índice glicêmico, que significa a capacidade que cada alimento tem para aumentar a carga de açúcar no sangue. Ana Paula acentua que “o consumo de carboidratos que são digeridos rapidamente é responsável por um rápido aumento da concentração de glicose sanguínea. O que significa alto índice glicêmico”.
          A nutricionista diz ainda que os alimentos de baixo índice glicêmico, que contêm carboidratos de digestão lenta e que liberam glicose gradualmente na corrente sanguínea, devem ser os preferidos, “pois nos mantêm satisfeitos por mais tempo e ajudam no combate à obesidade. Já o consumo de alimentos com alto índice glicêmico faz a glicose no sangue aumentar, o que gera maior quantidade de insulina, sobrecarregando o pâncreas e causando pré-diabetes ou diabetes tipo 2”.
          As bebidas alcoólicas apresentam, segundo Ana Paula, alto índice glicêmico, o que não significa necessariamente aumento no peso dos consumidores. “As pessoas só vão se tornar obesas com o álcool se beberem todos os dias e em grandes quantidades”, explica. A campeã de calorias é caipivodca, com 226 cal. A cerveja aparece na lanterna, com 50,5.

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